terça-feira, 26 de junho de 2012

CARTA ABERTA À IMPRENSA

CARTA ABERTA À IMPRENSA 
João Pessoa, 25 de junho de 2012 

Prezados/as, 

Vimos, através desta carta, manifestar nosso repúdio à maneira que a imprensa tem noticiado os casos de violência contra a mulher no estado da Paraíba, em particular, sobre as imagens utilizadas para ilustrar estas matérias. 
Não podemos aceitar a maneira como as mulheres vítimas de violência estão sendo expostas pela mídia, o que acreditamos reforçar ainda mais esta violência ao qual todas nós, de uma forma ou de outra, somos submetidas no dia a dia.
Entendemos que as imagens com corpos mutilados, sem roupas, com tarja nos olhos, entre outras, reforçam a humilhação das vítimas, no que diz respeito aos crimes de caráter machista ou de violência de gênero, e estimulam ou ao menos recompensam aqueles que os cometeram. 
A humilhação da vítima, seja para lavar a honra, seja para obter prazer (no caso dos estupros) é sim, e não podemos calar quanto a isso, um dos motivos que levam seus algozes a cometê-los. 
A imprensa também colabora com a ideia de que a mulher precisa ser "protegida", fazendo com que a sociedade insista na falsa ideia da fragilidade inerente ao nosso gênero. Precisamos sim, ser protegidas, mas não por homens e pelo comportamento "correto" de nossa parte, que em muitos textos é reforçado como uma espécie de redutor da violência contra as mulheres, e sim por leis, igualdade e justiça. 
Também devemos ser protegidas pelos veículos de imprensa, ao divulgar sim a violência contra a mulher, que vem alcançando índices alarmantes nos últimos anos. Frisando, só em 2012, 73 mulheres foram mortas na Paraíba, segundo dados oficiais divulgados pela Secretaria de Segurança Pública do Estado. 
Lembramos, no entanto, que a mídia é formadora de opinião, identidades e valores, e, portanto, deve prezar pela ética, o respeito a dignidade humana, e as leis que regem este país, fazendo valer a sua responsabilidade social. 
Insistimos que não é preciso recorrer a comunicação do grotesco para informar qualquer fato. Além das imagens, a imprensa da Paraíba tem produzido textos que reforçam a discriminação contra a população pobre, principalmente quando noticiam mortes que supostamente podem estar relacionadas ao tráfico de drogas, ligando a morte das mulheres ao tráfico, e subjetivamente afirmando que “ela deveria morrer, pois significava um problema para a sociedade”. 
A apuração dos fatos, ouvir TODOS os lados envolvidos nos acontecimentos é lição básica que aprendemos na universidade e que não podemos esquecer. 
No dia em que a professora universitária, Briggída Lourenço, foi assassinada, alguns veículos de comunicação da Paraíba veicularam imagens da mesma morta, deitada de costas no chão de seu apartamento e de Elizabeth de Lima dos Santos, que foi assassinada em Mamaguape. Tais imagens violam a privacidade e a integridade das vítimas e em nada contribuem para a denúncia da violência contra a mulher! Reforçamos: ÉTICA DEVE FAZER PARTE DO FAZER JORNALÍSTICO! 
A profissão tem um código de ética que deve ser observado e colocado em prática! O uso destas imagens viola o artigo 5º, parágrafo X, da Constituição Federal que diz: “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”, e ainda no mesmo artigo, parágrafo V, “é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além de indenização por dano material, moral ou à imagem”. 
O Código de Ética dos/as Jornalistas, no Capítulo II, artigo 6º, parágrafo VIII, diz “É dever do jornalista: respeitar o direito à intimidade, à privacidade, à honra e à imagem do cidadão”. Só para citar uma das diversas legislações brasileiras que prevem responsabilidades aos órgãos que violarem a imagem da pessoa. Entendemos, pois, que qualquer continuidade nessa linha de jornalismo, que consideramos sensacionalista e ineficaz, além de ferir os nossos esforços na mudança e conscientização da população acerca dos crimes de gênero, como uma atitude a ser denunciada e combatida. 

ASSINAM:

Marcha das Vadias – PB
Rede de mulheres em articulação da Paraíba
Cunhã – Coletivo Feminista/PB 
Bamidelê – Organização de Mulheres Negras na Paraíba 
Coletivo Feminista Teimosia/PB 
Ilê Mulher – Porto Alegre/RS 
Rede de Mulheres em Comunicação 
Grupo de Mulheres Negras Nzinga Mbandi/SP 
Associação de Mulheres Flor de Maio 
Grupo de Mulheres Negras Saltenses 
Associação de Mulheres Negras Acotirene 
Associação de Mulheres de Araras/SP 
Movimento Pela Saúde dos Povos/PHM 
Brasil Rede de Mulheres em Articulação na Paraíba 
Sandra Vasconcelos – jornalista 
Frente Feminista do Levante 
Associação Nacional dos Estudantes Livres (ANEL) 
Letícia Fernandes Resck – atriz e feminista independente 
Centro de Ação Cultural - CENTRAC 
Observatório da Mulher 
Associação das Trabalhadoras Domésticas de Campina Grande – PB 
Coletivo Feminino Plural 
Elas por elas- Vozes e ações das mulheres- SP  
MCTP - Movimento Nacional contra o tráfico de pessoas- SP
Fórum Nacional de Mulheres Negras 
 CEN - Coletivo de Entidades Negras 
Sandra Muñoz – feminista 
Eunice Gutman - Via TV Mulher 
Sulamita Esteliam, jornalista e escritora 
Blogue A Tal Mineira - Recife-PE 
O Geledés – Instituto da Mulher Negra 
Articulação de ONGs de Mulheres Negras Brasileiras 
Jeanice Dias Ramos, jornalista, Porto Alegre/ RS 
Tatiane Scherrer - Orçamentista Grafica – Limeira/SP 
Terezinha Vicente - Ciranda Internacional da Comunicação Compartilhada

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